Festa Junina
Vila Maria Zélia
Pesquisa de campo de Identidade e Cultura
Quermesse Vila Maria Zélia
23/06/2018
Por que escolhemos a Vila Maria Zélia? Bom, todos nós queríamos conhecer a quermesse e a vila ser considerada um monumento tombado pelo IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). É importante você sempre conhecer a história de seu país de origem, além de ser um dos poucos meios de conseguir preservar a lembrança de um fato que foi importante para a caracterização da cidade.
Era sábado, 23 de Junho de 2018. Sai de casa aproximadamente 16:20 e o dia estava ensolarado. Comecei meu caminho de casa e notei como as ruas estavam vazias, tanto de pessoas quanto de carros, vi apenas duas motos subindo a rua comigo e uma mulher de meia idade descendo a rua no sentido contrário. Fui observando o sol batendo na metade dos prédios e quando olhei pro céu, encontrei a lua ali, brilhando, “roubando a cena”.
Cheguei no ponto de ônibus depois de 15 minutos de caminhada e esperei a Linha 152 Sacomã. Tinha combinado de pegar o mesmo ônibus que a Isa. O ônibus passou e sentei do seu lado e comecei a observar a população do ônibus. Mais homens de seus 30/40 anos do que mulheres. Não havia presença de nenhuma criança e o motorista estava dirigindo consideravelmente rápido. Os passageiros estavam vestindo camisetas e majoritariamente calças ou bermudas jeans. Apenas dois homens desceram antes de chegar no Sacomã depois que eu entrei. Enquanto estávamos no ônibus entrou um surdo e mudo entregando um panfleto pedindo ajuda de recursos financeiros. Assim que chegamos no terminal Sacomã todos se misturaram, tinha crianças, adultos, idosos, criança de colo de todas as cores e biotipos.

Passamos por três linhas de metrô, (Verde, azul e vermelha), ficamos em pé o tempo inteiro e observamos. Homens e mulheres com crianças, de camisetas e jeans. Idosos e pessoas preferenciais. As mulheres em sua maioria usavam maquiagem, os vagões estavam consideravelmente cheios. Quando estávamos a duas estações da nossa estação (Estação Belém – Linha vermelha) fomos surpreendidos pela entrada de três musicistas, dois homens e uma mulher, de Dreads com dois violões, eles deviam estar na casa dos seus 25 anos e se vestiam diferentemente do resto do vagão. Eles entraram e começaram a cantar músicas de origem MPB. Os usuários do vagão não pareceram se importar muito com o que estava acontecendo. Alguns continuaram olhando pra tela dos celulares e observei até alguns olhares tortos. Quase perdemos a estação por estarmos tão atentos com essa cultura popular inesperada no Metrô. Em seguida chegamos no nosso destino e nos reunimos com o grupo aproximadamente às 18:15. 18:30 pegamos um ônibus até a O centro histórico da Vila Maria Zélia. O ônibus estava indo bem rápido e o caminho era bem sinuoso, ele estava lotado, porém havia poucas conversas e muitos homens presentes.
Chegamos na Vila 18:40. Fica perto da estação Belém e o evento durava cerca de três horas. A Vila Maria Zélia foi fundada em 1913 como uma vila residencial para os trabalhadores das primeiras industrias de São Paulo. É nítida a diferença entre as ruas da Vila e as ruas do centro de São Paulo por exemplo. Prédios grandes e imponentes, provavelmente galpões de armazenamento dos produtos produzidos que eram produzidos. Ruas largas, com calçadas grandes, ruas paralelas umas às outras, todas as ruas eram bem retilíneas, formando assim quarteirões em verdadeiras formas de quadrados e retângulos. Os prédios de esquina conseguiam ocupar a rua de esquina a esquina. A Vila é considerada patrimônio histórico e cultural do Brasil. Qual a importância de um Vila ser um Patrimônio? É muito simples: preservar sua cultura e história para gerações futuras, seja por meio de preservação de prédios ou pela realização de reuniões de sua determinada crença ou festas.
Enquanto estávamos conhecendo a Vila encontramos também a Décima Sétima Festa Junina da Vila Maria Zélia, local onde reúne todas as classes da sociedade e os moradores. Trata-se de uma comemoração feita todo ano desde do começo dos anos 2000 que já virou tradição. A quermesse abrange várias comemorações com bastante música e diversos tipos de comidas. Eles fecham as rua da cidade onde as barraquinhas e o bingo ficam alojados. Tinha pratos típicos desta época do ano além de vários pratos feitos a partir do milho. Assim era nítido pelas pessoas que se encontravam no local, havia a presença de carros chiques e carros mais populares, a quermesse e tornou tão popular na região que a população que seria considerada erudita havia começado a participar da festa que genuinamente é popular. Na rua principal, tinha uma igreja, pequena com um altar e algumas imagens nas vidraças. A tinta das paredes estava descascando, provavelmente pelo desgaste do tempo. Lustres vistosos, brilhantes pendurados cobrindo praticamente a igreja toda.
Por cada rua, notávamos a presenças de casas muito “pequenas”, com portões baixos e sem a presença de muitas garagens. Tudo bem pintado, as ruas estavam enfeitadas, pelo menos quinze casas por rua apresentavam uma bandeira do país e algumas “rabiolinhas” verdes e amarelas sobre os “tetos” das ruas. As ruas estavam vazias e enquanto andava observava prédios abandonados, onde é clara a visão de vidraças e janelas quebradas, tintas descascando além de vários rastros de vandalismo e piche. Na contramão de todo esse piche, havia a presença de grafites por alguns muros durante a parte de trás das da vila, eles já estavam bem claros. Um contraponto, onde a história e a “modernidade” se encontram, a ligação entre passado e presente. A Vila é completamente arborizada, todos os lugares havia uma grande presença de árvores, diferentes tipos de árvores. Mas o tombamento da Vila Zélia também trouxe alguns problemas aos moradores. Como é um tombamento histórico, onde tentam preservar toda a arquitetura e a história do lugar, muitas vezes os próprios donos de suas residências não podem fazer as devidas reformas. Elas precisam passar por um processo de avaliação por órgãos do governo para ver se eles não vão danificar a estrutura base que faz com que a vila seja considerada histórica. O que acaba impactando na deterioração acelerado do que em primeiro lugar deveria ser conservado por muitos e muitos anos.

Voltamos aproximadamente 21:00. No caminho de volta fizemos o mesmo percurso que o de ida pegamos um ônibus até a estação Belém, o ônibus estava mais vazio e conseguimos até alguns lugares com a presença de um público mais jovem bem dividido entre homens e mulheres, não havia a presença de muitos idosos. Ao chegar na estação Belém pegamos sentido Palmeiras e enquanto na estação notamos o incidente, parece que um rapaz pulou a catraca do metrô e houve uma mini “perseguição”, eles estavam num grupo de cinco jovens, uma garota e quatro rapazes, infelizmente não soubemos o desfecho por que pegamos o metrô nesse momento. Nos separamos na estação Sé, eu e a Isa descemos para a Linha Azul.
Os usuários do metro eram uma população muito mais jovem, na sua faixa de até 30 anos, usando roupas mais atuais, consideradas “da moda”. Não havia muitos adultos. Notamos a entrada de mais um musicista no caminho, um saxofonista havia entrado no vagão, imediatamente notamos que ele não era brasileiro. Ele tocou pra gente uma versão do samba saxofonista, de longe um dos pontos altos da noite, uma cultura totalmente da cultura erudita sendo tocada no metrô bem na nossa frente! Toda a população do metrô parou e escutavam atentamente, alguns mais jovens até arriscavam alguns passos de dança. Quando o músico terminou de tocar ele foi aplaudido. Infelizmente, a equipe de segurança do metrô interrompeu o show e pediram para ele se retirar e foi nesse momento que ele continuou a ser ovacionado pelos usuários.
Chegando no Sacomã, observamos mais homens na fila para o ônibus e ele estava consideravelmente vazio e não houve grandes mudanças nas pessoas, apenas mais uma população na faixa dos trinta anos. Entramos no ônibus e fomos pra casa, eu desci 15 minutos depois e a Isa continuou. Desci a rua da minha casa rápido, afinal, já estava um pouco tarde, já passava das onze. Cheguei em casa com o sentimento de missão cumprida e realização. O evento tinha sido ótimo e eu tenho certeza que a lembrança desse evento se propagará por anos com o relato no Blog. Quando eu cheguei em casa a única coisa que eu conseguia pensar era que eu queria dormir, então eu tomei um banho bem rápido, comi algumas bolachas e deitei e dormi. No outro dia acordei, tive a sensação que eu tinha sonhado com o evento. Sempre foi uma coisa que eu gostaria de ter feito, conhecer a cultura e história de algum lugar, e acordei com u sentimento de gratidão por ter sido capaz de realizar esse percurso e conhecer essa vila que de certo modo, é um pedaço da história da maior metrópole do país.