Festa Junina
Vila Maria Zélia
Pesquisa de campo de Identidade e Cultura
EXPERIÊNCIA FESTA JULINA – VILA MARIA ZÉLIA
A Festa Junina ocorreu no dia 23 de Junho de 2018 (sábado), com início previsto para as 19:00 horas, na Vila Maria Zélia, patrimônio tombado do bairro Belenzinho, São Paulo/SP.
Como moro distante do local saí precisei sair 2 horas e meia antes do início do evento. O ônibus passou na esquina da minha casa, enquanto esperava o transporte – que atrasou cerca de 25 minutos – algumas pessoas passaram pelo ponto, as mulheres todas carregavam bolsas, enquanto nenhum homem estava de mochila, apenas um usando uma bolsa tiracolo. Apenas 2 crianças esperaram com acompanhantes no ponto. Todos estavam vestidos com roupas comuns, do dia a dia, camisetas e jeans. No ponto há comércios diversos, barbearia, lanchonete, estúdio de tatuagem e padaria. O movimento era mais intenso na padaria e na lanchonete. O fluxo de carros na avenida era mediano.
Quando o ônibus chegou (Terminal Sacomã 152 – EMTU) ás 16h50min, notei que só tinham apenas 7 pessoas, não havia cobrador e o motorista não usava uniforme, mas uma camisa polo e calça jeans. Das 7 pessoas, 2 mulheres e 5 homens (todos adultos), 5 carregavam mochilas e 4 utilizavam fones de ouvido.
Ao longo do percurso não me deparei com trânsito, o ônibus passou por bancos, hospitais privados, postos de gasolina, restaurantes, bicicletarias, supermercados, lojas de produtos variados, praças públicas, escola pública, casas e prédios residenciais. Ao chegar no centro da cidade de SBC, avenida Faria Lima, os comércios tinham muitos artigos da Copa do Mundo, camisetas, toucas, bandeiras, buzinas, apitos, perucas, etc., todos nos tons da bandeira brasileira. Todos os pontos de ônibus do centro estavam cheios, a maioria eram mulheres, todas com bolsas e sacolas diversas, mas haviam crianças e homens também.
Passei pela linha dos trólebus e por viadutos. Ao chegar na Rodovia Anchieta encontrei um dos integrantes do grupo, Vitor, aproximadamente ás 17:20 no ponto do Habib’s, fomos juntos até a festa. Ele vestia jeans, camiseta branca, tênis e carregava uma garrafa de água. Até chegarmos no Terminal Sacomã, passamos por empresas de grande porte, pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, supermercado Extra e Makro, pela Universidade Metodista, prédios residenciais, poucas casas, outdoors de marcas de roupa íntima, loja de construção e marca de sapato feminino. Na rodovia o fluxo de carros não era intenso, haviam muitas placas sinalizando as direções, no percurso todo a rodovia apresentou uma infraestrutura de qualidade, sem buracos.
Ao chegarmos no Terminal nos deparamos com ambulantes do lado de fora, vendendo balas, chicletes, salgadinhos e bebidas. No lado de dentro um número bem maior de pessoas circulando, em sua grande maioria andavam rápido, carregando mochilas e levando na cabeça fones de ouvido de cores e tamanhos diferentes. O público que circulava no metrô era bem mais jovem do que o do ônibus. Dentro do metrô haviam máquinas de comida, vendendo doces, balas e bebidas em um valor mais alto que dos ambulantes da área externa. Havia também caixas eletrônicos e bilheterias. Os corredores eram bem limpos.
Ao entrar no metrô haviam algumas pessoas em pé, alguns casais de namorados, entre eles um único casal LGBT, não haviam idosos e nem crianças no vagão que entramos, durante o percurso um trio de músicos (2 homens e 1 mulher) jovem entrou e tocou 2 músicas, eles utilizaram Violão, Pandeiro e Cajon, vestiam camiseta, bermuda, sapatos velhos, pulseiras artesanais e cabelos soltos (todos).
Quando chegamos ao ponto de encontro o grupo estava sentado no chão, ainda faltavam 2 integrantes chegarem. Eram 18:20. Quando todos chegaram, depois de uns 15 minutos, tivemos que pegar um ônibus até a festa, no bairro Belém.
Ao entrar no ônibus haviam muitas pessoas, estava bem cheio. Tinham pessoas vestidas a caráter caipira, xadrez e calça jeans, duas crianças, uma menina e um menino, ela usava tranças e chapéu, ele apenas xadrez. A grande maioria no ônibus eram adultos. O ônibus estava tão cheio que mal conseguíamos ver o lado de fora. Vi somente alguns bares e poucas pessoas circulando na rua. A iluminação das ruas era de postes de luz amarela, não iluminando muito bem.
Ao descermos do ônibus até chegarmos a festa, os comércios já estavam fechados, menos os bares e lanchonetes, pouquíssimas pessoas andando na rua e fluxo baixo de carros também. Ao entrarmos na vila o chão era de paralelepípedo, muitos carros estacionados, os carros populares eram a minoria. A festa tinha começado a pouco tempo, então tinham chego poucas pessoas, mas as barracas e os responsáveis pelas mesmas já estavam a postos, doces, salgados, bebidas, cabine de fotos, venda das fichas, barraca do som, e mesas para as pessoas sentarem.
Enquanto a festa iniciava fomos conhecer a Vila, que possui muitas lembranças e histórias, um valor cultural muito rico. Muitas casas já sofreram mudanças e adaptações, com isso as características originais foram perdidas, entretanto muitas permanecem com muitos traços da construção original, muros e portões baixos, garagens externas, muitos vasos de flores e plantas ornamentais, tons pastéis de amarelo, azul e bege são bem comuns na pintura das casas. Algumas ruas estavam decoradas devido a Copa do Mundo, bola de futebol, mascote e a bandeira nacional foram pintados no chão, e rabiolas nas cores verde e amarelo presas ao poste. Muitas casas tinham banquinhos do lado de fora, vimos poucos cachorros dentro das casas, me recordo apenas de 2. As ruas são asfaltadas e iluminadas com postes de luz amarela. Ainda há prédios que são preservados, como a Igreja, o Armazém, a escola de meninas e meninos. As intempéries naturais foram danificando com o tempo a estrutura, necessitando hoje de restauração. Há um muro na extremidade da Vila, que possui muito grafite e pichações, encontramos 2 gatos próximos ao muro. Uma das casas que mais chamou a atenção foi um sobrado pintado na cor preta, com detalhes brancos.
Ao voltar para o ambiente da festa, que já estava bem cheio, era um ambiente extremamente familiar, pessoas bem arrumadas, muitos idosos, adultos e crianças, o número de jovens presentes era menor. As filas estavam todas grandes e as mesas todas ocupadas, havia música em volume médio-baixo. A presença de pessoas negras era extremamente baixa, a maioria eram brancos, loiros e dos olhos claros.
Tivemos a oportunidade de conhecer pessoas influentes do bairro, responsáveis pela administração, organização de eventos e manutenção do bairro.
Durante a festa tivemos a oportunidade de conhecer o Centro de Memórias do bairro, os moradores ocuparam um dos prédios do INSS e lá montaram esse local que comporta fotografias em branco e preto de casamentos de moradores, e dos times de futebol, há maquetes dos prédios principais da Vila, feitas por alunos de Arquitetura e Urbanismo, há documentos e certidões, objetos de ferro bem antigos, uma máquina de pequeno porte utilizada para fabricar calçados de couro, livros que citam a Vila em seu enredo e o registro de filmagens apresentadas na televisão que foram gravadas na Vila. O prédio em si está velho, com a tintura descascando, tijolos aparecendo, madeiras danificadas por cupidos, todavia o local é limpo e está sendo conservado. Durante a visita a historiadora do bairro, ex-professora de História, vestida de jeans, tênis, óculos e camiseta, aparentando ter 45 anos, nos explicou um pouco mais sobre a Vila, o processo de tombamento e o Centro em si. Enquanto estávamos no local, entraram 3 famílias com crianças de colo e um casal de senhores, estavam arrumados, ainda que fossem roupas simples, de passeio.
Após termos conhecido o Centro, paramos para decidir se iríamos embora naquele momento, um pouco antes das 21h00min, sentamos no chão da praça, havia um casal jovem fumando bem próximo de nós, na rua já haviam alguns carros circulando saindo da vila.
Quando decidimos que íamos embora, 21h00min pontualmente, nos deslocamos para fora da Vila, uma integrante do grupo (Letícia) decidiu ficar junto com seu namorado. Até chegarmos no ponto de ônibus só passamos por um grupo de pessoas, que estavam na calçada, sentados na porta da casa, 3 crianças pequenas brincavam com uma bola colorida de borracha. Até o ponto de ônibus vimos somente 2 bares abertos, e tinham cerca de 3 a 5 pessoas cada um. No ponto de ônibus tinham mais pessoas, aparentavam ter entre 20 e 30 anos, todos eram adultos. Após uns 15 minutos o ônibus passou, não estava cheio, o motorista também vestia jeans e camiseta, as pessoas do ônibus carregavam bolsas e mochilas, em grande parte tinham a fisionomia cansada, não observei nenhuma pessoa lendo, apenas algumas poucas com fones de ouvido. Após 15 minutos chegamos a estação de metrô Belém e lá nos dividimos.
Ao nos dividirmos, eu e o Vitor voltamos juntos, pegamos o metrô em direção ao Sacomã, o público que estava circulando no metrô era nitidamente, em sua grande maioria, jovem, vimos muitos garotos e garotas com roupas de festa, bem maquiadas e usando salto alto. Enquanto esperávamos um jovem, aparentando ter 17/18 anos, pulou a catraca, ele vestia camiseta larga, tênis e boné pretos, e bermuda bege. Ele pulou e saiu correndo, já que os seguranças saíram atrás, até um momento em que eles conseguiram pega-lo e começaram a questionar o que ele havia feito, o menino estava com um grupo de amigos que também se intrometeu, o metrô chegamos e não vimos o desfecho da história.
Dentro do vagão a maioria das pessoas estava sentada, muitos usavam fones de ouvido e mexiam no celular, novamente não haviam idosos, a maioria aparentava ter meia-idade (20-30 anos). Havia um grupo de corinthianos, 3 homens e 2 mulheres, eles eram mais velhos, cerca de uns 40 anos, usavam calça jeans e camiseta do time, elas aparentavam ter 20 anos, estavam de shorts e camiseta, cabelos compridos e lisos, as duas estavam maquiadas e tinham celulares nas mãos. Os homens ficaram brincando de se empurrar para fora do vagão, eles falavam muito alto e não paravam de fazer piadas. Enquanto esperávamos nossa estação um músico estrangeiro (devido ao seu forte sotaque), entrou, cumprimentou todos, ligou uma caixa de som e começou a tocar saxofone, ele vestia bermuda cinza, camiseta azul claro, e chinelos pretos, tinha o cabelo loiro que batia nos ombros, uma barba curta, seus pés estavam meio sujos, ele usava pulseiras artesanais. Após ele tocar quase 2 músicas, o vagão parou na estação, e quando a porta abriu 2 seguranças pediram para que ele se retirasse, ele cumprimentou os seguranças e de boa vontade se despediu de todos e saiu. As pessoas no vagão começaram a reclamar e a bater palmas pelo músico, que segundo eles “só estava fazendo seu trabalho”. Quando chegamos em nossa estação, haviam muitas pessoas circulando, paramos para tirar uma foto com a decoração da Copa do Mundo, após a foto descemos até o terminal para pegar o ônibus, o terminal estava cheio, esperamos cerca de 15 minutos até nosso ônibus sair (152, EMTU, Área Verde/SBC). O ônibus estava com poucas pessoas, algumas usavam uniformes de empresas, fomos sentados no fundo. Fizemos o mesmo percurso de ida, uma das únicas diferenças foi que fizemos em um período mais curto de tempo, devido ao fluxo baixo de carros na rua.
Cheguei em casa por volta das 23h00min, o Victor desceu do ônibus aproximadamente as 22h35min/22h40. Quando cheguei no ponto, não havia ninguém, somente meu pai me esperando, ele vestia calça jeans cinza, blusa de frio azul marinho e sapatênis preto, ele tinha cara de sono. Os comércios estavam todos fechados e haviam pouquíssimas pessoas circulando na praça Giovanni Breda (Área Verde). Do ponto de ônibus até minha casa, são cerca de 60 metros, não havia ninguém na rua, poucos carros estacionados e poucas casas tinham luzes acesas. Estava um tempo mais frio, poucas estrelas no céu e uma lua cheia, eu estava bem cansada.
Cheguei em casa, conversei com meus pais sobre o evento e me preparei para dormir.
No outro dia levantei bem cedo, já que ás 9h00min tinha que ir para a Igreja (A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), não foi difícil de levantar, estava cansada, mas o sono logo passou, no período da tarde que pude descansar.
A experiência de visitar um patrimônio tombado foi bem interessante, só me fez reconhecer a importância que esses locais possuem na construção da identidade cultural da cidade e do estado de São Paulo. Infelizmente é triste saber que não há apoio governamental para preservação do local, dessa frma os próprios moradores devem custear sua manutenção ou conviver com os riscos das construções extremamente antigas.