Festa Junina
Vila Maria Zélia
Pesquisa de campo de Identidade e Cultura
O meu trajeto começou na Biblioteca Mario de Andrade ás 17:40, localizada no centro de São Paulo - República. Na biblioteca, tinham algumas pessoas estudando – a biblioteca não estava lotada - e lendo textos, a maioria era jovem. Ainda não havia escurecido. Já na rua, a caminho da estação Anhangabaú, o grupo de pessoas que estava indo para o Belém pelas linhas de trem avisou por mensagem que atrasaria – não iriam chegar mais as 18hrs (o horário marcado). Parei então por um momento para tomar notas do lugar ás 17:55 (acabei atrasando por que o outro grupo no fim chegou no horário certo).
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Era sábado à noite, tinha um grande número de bares abertos. Eu conseguia escutar música alta (samba) num lugar próximo a biblioteca. Entrei no metrô Anhangabaú ás 18:00. Existiam vendedores de carteiras e alguns alimentos. Tinha fluxo médio de pessoas naquele horário, sendo a maioria jovem vestindo roupas como camiseta e jeans. Como estava calor, algumas pessoas usavam shorts (ou bermuda) e regata. Alguns usavam uniformes de empresas.
Apesar do horário ser de grande movimento durante os dias da semana, como era sábado o metrô estava sem muitas pessoas. A maioria conversava em grupos, e existiam alguns casais também. Fiquei no terceiro vagão. Até a estação Belém eu tinha que percorrer cinco outras estações – acabei me atrapalhando e passei a parada do Belém, precisei sair no Tatuapé e voltar pelo sentido contrário. Encontrei o grupo na estação ás 18:30hrs. Meu trajeto durou no total 35 minutos.
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Pegamos ônibus no próprio terminal da estação, o participante Murilo sabia o caminho então não precisamos perguntar para alguém. Entramos no ônibus era 18:40hrs. Eu não encontrei o meu bilhete único (achei que tivesse perdido). Victor passou a passagem para mim (eu fiquei de pagar a volta para nós dois). O motorista correu bastante no caminho, e como não tinha lugar vago para sentarmos no ônibus, precisamos nos segurar firme. As pessoas que estavam conosco no transporte, em sua maioria, eram adultas e idosas. Vestiam jeans e camiseta (ou camisa). O bairro do Belém por onde passamos era bem multifacetado em partes comerciais e residenciais. No caminho, existiam algumas indústrias. Demos sinal para o motorista no ponto em que deveríamos descer, mas ele ignorou e nós desembarcamos um ponto depois do que deveríamos. Tivemos que subir a rua para voltar o caminho que passamos. Chegamos a Vila Maria Zélia ás xx:xx.
Logo na entrada fomos orientados por uma moça chamada Bruna, que acompanhava duas crianças, a respeito do local da festa junina. Tiramos fotos nos murais e seguimos em frente. Encontramos um moço chamado xxxxx, que nos recebeu. Ele é considerado um dos grandes representantes da vila. Nos contou que o lugar foi palco de artistas como Anita. Como a festa ainda estava vazia (não dava para notar muito dos pontos para relatório), decidimos caminhar pela Vila. Passamos pela igreja que fica dentro da vila, a qual não possuía muitos ornamentos. Vimos rapidamente algumas barracas de comidas (mas nenhuma de jogos e brincadeiras).
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Alguns prédios estavam com a pintura descascada, muitos deles se encontravam em ruínas, com janelas quebradas, piches nas paredes e sem telhado. Outros (os locais onde haviam pessoas morando) possuíam geralmente pinturas novas. Quanto mais no início da Vila, mais antigos eram os prédios. O grupo, nesse momento, estava separado, cada um fazendo as suas próprios relatos pessoais, eram 19hrs. As únicas partes da Vila que possuíam comercio eram as barracas da própria festa junina.
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Tinham algumas crianças na festa e na própria rua da vila. Existiam algumas referências a copa como bandeirinhas e as cores do Brasil. Os carros eram de marcas com alto valor, e eram estacionados nas ruas – a maioria das casas não possuía garagem. Essas ruas eram largas e as calçadas eram bem estreitas. Não foram observados grandes prédios, a maioria das residências possuíam até três andares. Os portões eram baixos, e existiam muitas árvores. Muitas pessoas andavam de bicicleta. Muitos dos animais (como gatos) ficavam soltos nas ruas. Nós do grupo fazíamos algumas observações juntos, conversamos bastante sobre a arquitetura da vila e sobre as pessoas na festa junina.
Depois de caminharmos pela Vila, voltamos para o centro da festa junina as 19:40. Conhecemos a Camila e a Vanessa (a Camila era amiga do participante Murilo). As duas nos contaram a respeito da organização estrutural e política da Vila, e nos esclareceram sobre questões históricas. A Camila contou que, atualmente, a vila estava mais segura do que na época em que era criança.
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Na festa junina, o clima estava ameno. Muitas pessoas vestiam roupas de verão como regatas, com shorts, bermuda ou saia. Existiam muitas peças jeans, ou tecidos leves. Algumas vestimentas faziam referência as cores do Brasil – então, amarelo, verde e azul. A maioria das pessoas eram adultas, mas existiam algumas crianças acompanhadas da família. Não existiam muitos grupos de jovens. As barracas de alimentação estavam localizadas na rua central da vila, logo à frente da entrada. Nos dois lados opostos dessa rua era possível comprar tíquetes, que se trocavam por comida. Nessa rua também se encontrava a igreja em que passamos no início da festa. Nas barracas eram vendidas comidas típicas como curral, pastel, churrasco, milho. As pessoas que trabalhavam nesses locais usavam avental, touca e luvas. As barracas possuíam toldo azul. Além de comida, algumas senhoras também vendiam colares, pulseiras e anéis. A Camila nos contou que quem prestava esses serviços eram próprios moradores da Vila. Já era xx:xx, a festa junina já estava mais cheia.
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Nesse horário, a Camila e a Bruna convidaram a gente para conhecer o Museu da Vila. Entramos e pudemos ver objetos e mapas da década de 20. Lá, conhecemos Rose, uma historiadora que nos contou a trajetória da vila e as dificuldades que enfrentava por ser tombada – os moradores não possuíam ajuda de custo, nem permissão para reformar suas casas (que estavam precisando). Nos contou também que a festa junina trazia a união dos moradores da Vila, além de ser um recurso financeiro – e é importante porque o Governo não ajuda a subsidiar as necessidades da Vila.
Voltamos para a rua da festa. Nesse momento, havia música bastante alta em um palco improvisado. Em torno desse palco, existiam várias mesas de plástico, onde as pessoas da festa sentavam para descansar e se alimentar. Algumas pessoas dançavam a música que estava tocando. As filas, que antes estavam medianas, estavam bem grandes. Murilo e Leticia, que tinham comprado fichas antes das filas estarem com muitas pessoas, aproveitaram para pegar comida. O resto do grupo – eu, a Ketlyn, o Daniel, a Isabela e o Victor – encontramos um local para sentar perto de uma praça. Meus pés estavam doendo (o tênis que eu escolhi para ir não era muito confortável), e eu estava cansada. Tinha trabalhado no mesmo dia. Eu e o grupo aproveitamos para conversar sobre a Vila e a importância da festa junina para o lugar. Todos concordamos que tinha sido uma ótima experiência. No total, ficamos por lá durante 2 horas e 30 minutos.
Esperamos o Murilo voltar (ele era a única pessoa que sabia como chegar no ponto de ônibus). Saímos da Vila e fizemos o caminho até o ponto, que estava bem deserto. Pegamos um ônibus que seguiu até o metrô Belém, ele estava sem muito movimento mas não conseguimos lugar para todos sentarmos. Eu tinha achado o meu bilhete único enquanto estava sentada na praça, e passei a passagem para mim e para o Victor. Já no metrô Belém, enquanto estávamos entrando no metrô, presenciamos um garoto que pulou a catraca. Teve alguma comoção dos seguranças, mas no fim o garoto não foi retirado da estação. Me despedi do grupo, já que eu era a única que seguiria o metrô na linha vermelha sentido Corinthians Itaquera.
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O vagão do metrô estava mais vazio, tinham lugares para sentar. As pessoas na maioria era jovem e estava vestindo roupas como jeans e camiseta. Existiam alguns com terno e gravata, ou uniforme de empresas. Um vendedor passou oferecendo chocolate. Cheguei na estação vila Matilde as 21:50 e peguei um micro-ônibus de número 3625-10, para chegar em casa. O ônibus estava parecido com o metro, consegui um lugar vago para sentar sem dificuldade, e as pessoas lá dentro eram mais jovens. Desci no meu ponto as 22:06, onde caminhei alguns metros para chegar em casa. A rua estava vazia, mas existiam alguns bares abertos que comportavam um grande número de pessoas. Cheguei em casa as 22:10, somente tomei banho e fui dormir. No outro dia, acordei por volta de 10hrs. Estava com algumas dores musculares por conta de ter caminhado bastante no dia anterior. Pensei muito sobre a Vila Maria Zélia. A sua resistência me fez refletir sobre a legitimidade e permanência de costumes locais no Brasil, mesmo dentro de elementos que consideramos tão corriqueiros como uma festa junina.